1 de maio de 2012

já que perdi os óculos de enxergar o que escrever, posto aqui a minha Flávia:



14h33m acabo de abrir os olhos num sábado, ao redor: livros, CDs, roupas sujas e limpas, tênis. Na cabeceira: ingressos de cinema do dia anterior e algumas moedas. Um conto para ser escrito em primeira pessoa; deixar a TV me ninar; te esquecer – anotados num bloco. E parece que o cansaço não acaba depois das horas de sono, fim de semana só começando: descansar ctrl + f.

Cabelo médio, nem curto nem liso, fios brancos, vinte poucos anos. Bom papo. Sintonia. Tênis, calça jeans, bar, cerveja – dia um. Cinema, café e cama – semanas. Inverno. E tudo findo: quarto, café e cinema. Cerveja, cerveja, cerveja.

E é neste momento que sinto este imenso vazio em bypass: nem saio de mim nem fico em mim, não vou a você, a ninguém. E por um tempo achei que isso de estar só era triste, tão triste que eu devia compartilhar em porres e lágrimas no bar, ficar cru ao ponto em que amigos oferecem o ombro e bem passado quando se afastam. Descer ao fundo de se segurar na rotina, essa era a parte triste da história – crtl z.

E o menino que queria chegar às orelhas de um deus e dizer três coisinhas quais queres de criança que acha graça em piada escatológica cresce ligeiramente entre a sinfonia serrote dos operários, dos carros e das vozes de estranhos em transportes públicos gastos. Qualquer coisa fone de ouvido no talo, fastfood e sexo pago; qualquer coisa boca do lixo baixo augusta destilado – qualquer coisa.

E você que me ensinou tudo isso que eu não sei dizer, tudo isso que é um calo colérico caetano de se ter com coração, essa coisa transcendental meia boca, essa coisa substantivo, essa coisa ai, essa coisa tão banal: S2.

Escrever um conto em primeira pessoa que não diga absolutamente verdade alguma, coração algum. Escrever um conto nesta cidade em primeira pessoa sobre a solidão liquida pós- moderna. Escrever um conto em primeira pessoa em que a primeira pessoa seja invenção. Escrever um conto em primeira pessoa, piegas baseado em amar.

- Qual é o tamanho da tua dor?



publicado originalmente em http://popcultdebolso.blogspot.com.br/

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